Entre 2012 e 2021, mais de 245 mil brasileiros tiveram membros inferiores como pernas ou pés amputados, ou seja, três cirurgias dessa espécie foram realizadas por hora. O levantamento, realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), constatou uma alta ainda maior de amputações durante o período de pandemia de Covid-19.
O motivo para o aumento desses procedimentos decorre da dificuldade de acompanhamento das complicações na saúde de pacientes que, durante a emergência epidemiológica, abandonaram tratamentos ou evitaram a ida aos consultórios e hospitais por medo da contaminação de Covid-19. Em 2020, quando a crise epidemiológica começou no Brasil, a média diária de amputações chegou a 75,64, enquanto em 2021, foi de 79,19. Nesses dois anos, um total de 56.513 brasileiros foram submetidos ao processo de amputação ou desarticulação de membros inferiores.
O estudo foi elaborado a partir de informações disponíveis na base de dados do Ministério da Saúde, e preocupa profissionais da saúde em relação aos cuidados com doenças vasculares, como a síndrome do pé diabético. De acordo com os especialistas, mais da metade dos casos de amputações envolvem pessoas com diabetes. No entanto, as cirurgias em membros inferiores podem também estar relacionadas a causas como o tabagismo, hipertensão arterial, idade avançada, insuficiência renal crônica, e histórico familiar.
Para o cirurgião vascular Mateus Borges, diretor de Publicações da SBACV, os dados demonstram o impacto da pandemia no cuidado e na qualidade de vida dos pacientes. Segundo ele, pessoas com diabetes que desenvolvem úlceras e evoluem para quadros infecciosos demandam longos períodos de internação ou reinternações, com consequentes perda ou afastamento do trabalho, aposentadoria precoce e, por vezes, queda na autoestima, depressão ou criação de um quadro de dependência de familiares ou amigos.
Subnotificação
Outro dado preocupante é a quantidade de indivíduos que têm diabetes e não sabe. “No mundo, uma em cada cinco pessoas não sabe que é portador dessa doença. A pandemia nos revelou isso. Muitos pacientes que chegam ao consultório ou aos serviços de urgência com complicações do diabetes só descobrem que a têm após o atendimento. O Brasil já possui uma legião de amputados, que cresce exponencialmente”, comenta o especialista.

A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratadaOscar Wong/ Getty Images

A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreasmoodboard/ Getty Images

A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpoPeter Dazeley/ Getty Images

Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o malPeter Cade/ Getty Images

A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normaisMaskot/ Getty Images

Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dietaArtur Debat/ Getty Images

A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outrosChris Beavon/ Getty Images

Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamentoGuido Mieth/ Getty Images

É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doençaGSO Images/ Getty Images

Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de riscoThanasis Zovoilis/ Getty Images

Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecçõesPeter Dazeley/ Getty Images

O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes)Panyawat Boontanom / EyeEm/ Getty Images

Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controleOscar Wong/ Getty Images

Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressãoImage Source/ Getty Images
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Pacientes com diabetes e úlceras nos pés apresentam taxa de mortalidade duas vezes maior em comparação com pacientes diabéticos sem úlceras nos pés. Quem é submetido à amputação maior do membro inferior apresenta baixa taxa de sobrevida.
Aproximadamente 10% dos pacientes que amputam o membro inferior morrem durante o período pré e pós operatório; 30% no primeiro ano após amputação; 50% no terceiro ano; e 70%, no quinto. O percentual pode ser maior em países em desenvolvimento, já que a procura por assistência médica costuma ocorrer quando a infecção da úlcera está avançada.
Embora o crescimento no número de amputações realizadas entre 2012 e 2021 seja equilibrado entre todas as regiões do país, a variação percentual nesse período chama atenção em alguns estados. Alagoas, por exemplo, foi a unidade federativa que mais sofreu alta no número de amputações, com crescimento de 173% na comparação entre o início e o fim do período estudado, apresentando um salto de 182 para 497 procedimentos.
Outros estados que registraram alterações expressivas no mesmo intervalo foram Roraima, com variação de 160%; Ceará, com alta de 146%; e Rondônia, com crescimento de 116% na comparação entre 2012 e 2021. Por outro lado, Amapá e Amazonas foram os únicos estados que apresentaram queda no mesmo método de análise, com reduções de 29% e 25%, respectivamente.
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