Quebrar as barreiras em uma área do conhecimento dominada por homens, as Exatas, é o objetivo do Astrominas, coletivo formado em 2019 para empoderar garotas por meio da ciência. Idealizado por mulheres do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e de outros institutos da área, o projeto oferece cursos gratuitos online para aproximar adolescentes entre 14 e 17 anos desse universo.
“As meninas são nosso foco. Queremos tentar trazê-las para essa área”, explica Loreany Ferreira de Araújo, mestre em ciências pela USP e doutoranda em astronomia no IAG. “O projeto vem como forma de ensinar que elas podem, sim, entrar em alguma área de Exatas sem se sentirem desconfortáveis por causa de preconceito.”
A terceira edição do curso, que ocorre entre 2 e 22 de julho, teve um número recorde de inscrições. Foram 16.934 vagas para meninas nas 400 vagas disponíveis. Cada hora precisa agendada até quatro horas participantes para as atividades que são necessárias, de acordo com sua disponibilidade. O projeto conta com a contribuição, também de cientistas renomadas que trabalham no Brasil e exterior.
“Inicialmente, a gente imaginava pegar cem meninas e depois acompanhar 10 delas no dia a dia, usando os simuladores. Mas quando começarmos o programa, em 2020, veio a pandemia de covid-19”, lembra Lilian Sagan, que faz mestrado em Astronomia. “Vamos, pensar de uma forma e fazer uma atividade online.” O coletivo viu as inscrições no programa saltarem de 9.146 em 2020 para 13.738 no ano seguinte. E agora bater o record para 2022.
A proposta inicial de acompanhar as garotas de forma próxima se manteve. “Fazemos o acompanhamento individual de cada menina, auxiliando nas atividades e interagindo”, explica Lilian.
Para conseguir dar conta desse trabalho, o grupo conta com o reforço personalizado de 150 fadas madrinhas, monitoras que atuam na área e ajudam no reforço do curso. “Essa grande procura nos mostra que as mulheres se interessam por Exatas”, diz Lilian, reforçando que o coletivo conta ainda com 26 organizadoras.
Ana Clara de Paula, de 20 anos, é aluna de formação em Física na USP e desde 2020 iniciação científica nas áreas de ensino e divulgação. Ela cresceu em Diamantina, no interior de Minas Gerais, e diz que sofreu um impacto quando se deparou com a realidade da área de Exatas. “Nunca tinha ou conversado com um cientista visto. Só tinha contato em livros e séries. Cheguei na USP cheia de esperança, mas quando entrei na sala de aula 90% dos alunos eram homens e brancos. ‘Cadê as pessoas como eu’, pensei”, conta Ana Clara. “Isso me chocou um pouco e decidir ajudar a trazer pessoas como eu, mulheres pretas, para fazer ciência. Não quero que as próximas gerações de cientistas sofram com isso.”
Aluna anos de qualidade em Astronomia, Vitória Bellecerie, de 21, se lembra da boa receptividade que o Astrominas foi apresentado. “As pessoas ficaram surpresas e logo falaram que era um projeto bem legal”, relembra.
O coletivo agora quer ampliar o número de vagas no curso, mas sem perder o propósito de garantir o acolhimento individual para as meninas. “Queremos que tenham uma sensação de reconhecimento ao ambiente de uma universidade pública que forma cientistas”, explica Lilian.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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