Saudosistas e entusiastas que me perdoem, mas não grandes expectativas em relação à possível volta do Orkut. Como já amplamente divulgado, o domínio da rede social reativado há cerca de um mês, com nada mais que uma carta pouco conclusiva de seu criador, o ex-engenheiro Google, Orkut Büyükkökten.
Está exatamente neste texto um dos motivos da minha quase indiferença. O conteúdo anuncia uma novidade, sem dizer exatamente o que se refere. Faz críticas às plataformas em que as pessoas vão apenas para “dar like” e comentar as fotos dos outros; diz que as ferramentas on-line devem servir, não dividir; proteger nossos dados, não vendê-los; trazendo esperança, não medo e ansiedade. De forma nenhuma quero diminuir a importância. São todos naturais e importantes. O ponto é que, em 2016, quando lançou a rede social Hello, Büyükkökten a apresentada ao mundo embalada por discurso semelhante. Era, então, “a primeira rede social construída através de amizades profundas, não ‘curtidas’”.
Por mais que estas plataformas se esforcem em oferecer experiências diferentes, renovar recursos e recursos contra maus, elas, no fim do dia, são como caixas vazias, povoadas por nossos “eus”.
Não acredito que dependa exclusivamente das ferramentas a criação de um ambiente saudável – muito menos a construção de “amizades profundas”. É claro que as empresas por trás desses ambientes têm que ser chamadas à responsabilidade, mas uma solução, se é que ela existe, não me parece ser unilateral. Por isso que esse discurso tipo “nós contra eles”, “o bem contra o mal” me dá uma certa preguiça. Ainda que a humanidade atingisse o nirvana da perfeita social, enquanto houver ódio, semper perfis, uma rede vizinha ou apropriadas para abrigá-lo.
Quando a gente lembra com carinho das comunidades do Orkutdos scraps, dos gelinhos e coraçõezinhos, me parece que, no fundo, sentindo saudade é de nós mesmos – de quem a gente era, de como a internet era, de um tempo em que palavra como fake news e polarização menos comum .
Pode ser até que toda essa reflexão influencia um esforço para diminuir meu tempo de tela – terrivelmente aumentado em função de tudo o que aconteceu nos últimos anos. Desde que eu trouxe uma cachorrinha para casa, há três semanas, já escutei pelo menos dez vezes que devia abrir um perfil para ela. A resposta que me vem à mente é sempre a mesma: eu quero um pouco menos de redes sociais na minha vida, não mais.
Mas, ok, vamos brincar… E se a carta enigmática do Orkut Büyükkökten. para realmente sobre um novo Orkut, como ele seria? Bastante diferente do original, eu acredito.
Nos últimos meses, temos acompanhado uma plataforma muito mais jovem e bem-sucedida se reinventando em função da concorrência. O que dizer então de um jogador que você fez sua trajetória há anos? Redes Sociais são, somem e mudam numa velocidade difícil de acompanhar, mesmo para quem vive este dia a dia. Imagina integrar e reagir a tudo que aconteceu desde que o Orkut foi desativado, em dia 30 de setembro de 2014?
Pode ser até a gente reencontrar as versões atualizadas de experiência e coraçõezinhos, arriscar a adaptação aos nostálgicos, mas estruturar e ter que voltar a ser transformados. Bem, por via das dúvidas, deixe meu e-mail lá nokut.com. Eles prometeram que serei “a primeira a saber” sobre as novidades.
Patrícia Albuquerque é diretora de Digital e de Conteúdo da Approach Comunicação, uma marca Approach Network. Jornalista, ela trabalha desde 2007 com conteúdo digital.
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