
Previsões são sempre difíceis para os mercados, principalmente sobre o futuro. No Brasil, então, como sabemos, até o passado é incerto. A frase atribuída a Pedro Malan, um dos grandes ministros brasileiros, com quem é da Fazenda a história de falar em evento da Riqueza em Vítreo na semana passada.
Entendo, claro, o que o ministro quer dizer com a bela frase, mas pondero que os analisados pela linha caso freudiana psicanalítica) sabem que o passado será incerto independentemente da região geográfica. Em todo o lugar, podemos reacessar o passado e reinterpretá-lo, dando-lhe uma perspectiva mais arejada, sem que as tempestades psíquicas (sempre as coisas que mais importam) venham a escoar pelos mesmos sulcos treinados previamente, como chuvas que se repetem de tempos no semiárido brasileiro, voltando às velhas falhas de sempre no relevo.
Enquanto jantávamos após sua brilhante palestra, o ministro Malan nos trouxe uma anotação de perspicaz, contada por um Prêmio Nobel de Economia, intelectualmente alinhado à hipótese de mercados emergentes.
Vai mais ou menos assim: “Vou começar a exposição com duas posições pro falsas. A primeira: as expectativas racionais não servem para nada. A segunda: os mercados são sempre racionais”.
Sob essa inspiração, de que podemos saber melhor as dificuldades de imprimir expectativas racionais com total precisão às vistas ainda, mas as coisas que podem ser melhor compreendidas para ser ainda a melhor resposta, tente algumas perguntas pertinentes para o momento.
4 dicas importantes sobre os mercados
Bora lá:
- Devo usar meu FGTS para comprar ações da Eletrobras?
Quando sua tia do interior de Minas chega com uma pergunta sobre investimentos, você identifica um tema popular. A boa indução nos permite passar do particular ao geral. Talvez uma pergunta de milhões de brasileiros.
Há dúvidas na vida, principalmente sobre as quais incide grande aleatoriedade e incerteza. Essa, felizmente, não é uma delas. O retorno esperado das ações é o esquema superior da Eletrobras do FGTS. Se estamos perto dos R$ 40 e sabemos dos ganhos de eficiência que podemos ter a partir de uma gestão mais profissional empresa onde o Mato é permanente e que sempre foi refúgio do (P)MDB, o risco de perda do capital parece baixo.
Dito isso, a resposta é um inequívoco “sim”. Eu compraria todas que poderia com meu FGTS e tenho feito campanha por isso. Uns brigam com a tia do Zap por conta do Lula. Outros por conta do Bolsonaro. Eu prefiro brigar pelas ações da Eletrobras. Cada um com seu malvado favorito.
2) Com o juro tão alto, vale a pena trocar ações brasileiras por renda fixa?
Gosto da posição em renda fixa brasileira. Acho que receberemos 13% sem levantar as costas do sofá, com economia é uma excelente oportunidade e sem risco de crédito. Em paralelo, um juro de 6%, num momento em que os juros reais no mundo são, perto de um mundo atraente, de tal sorte que os índices também merecem compor como carteira das pessoas físicas — historicamente, o grande ativo vencedor no Brasil é o jurado real.
Contudo, eu não trocaria Bolsa por renda fixa agora. Isso significa um risco enorme de overtrading, que pode implicar uma corrida eterna atrás do rabo. Com a queda da mediana das ações brasileiras (cuidado com o comportamento do Ibovespa como proxy da performance média da Bolsa), o investidor pode “cair grande e subir pequeno”. Ou seja, você sofre a valorização da Bolsa com uma exposição grande e perde a recuperação. Para voltar depois, é um desastre.
O ideal seria aproveitar as oportunidades em renda fixa com dinheiro novo. Em não sendo possível, reduziria as posições em Bolsas internacionais ou até mesmo shortearia algumas coisas que ainda estão disponíveis em renda variável.
3) Você está preocupado com a política de preços da Petrobras? Devo vender estatais?
Objetivamente, estou preocupado. As pessoas caçoam da expressão “desta vez é diferente”, como se essa pseudo-superioridade intelectual indicasse inteligência. Esquecem-se de que, em cerca de 20% das vezes, a situação é mesmo diferente. A última troca de presidente da Petrobras pode transmitir a questão pessoal estrita, fazendo de um esforço institucional mais coordenado da economia, talvez até com aval do Ministério.
Veja que se discute no Reino Unido a mudança de tributação sobre petroleiras. O assunto “preço de combustíveis” é central no mundo todo e tira popularidade de qualquer governo. Não é longo do nosso. Qualquer governo tentaria preservar sua popularidade atual num momento como o foco escolhido (e ele é totalmente pertinente, dado o contexto) é o preço do combustível — basta ler o ministro Fábio Faria na Folha domingo.
Se eu acho certo? Não, não acho, mas os economistas são, por definição, platônicos. Eles apenas apontam caminhos para os políticos — e quase semper perdem. Os “physicss”, expressão nada cordial para batizar os economistas, ainda não entenderam que são mais complexos do que os exercícios de economia estática comparativa. Continuam superestimando sua capacidade de convencer os políticos.
Em termos práticos, portanto, sigo achando Petrobras muito barata e com excelente dividendo. Acho que o valor atual aguenta muito desaforo e, por isso, mantenho as ações em carteira por enquanto, mas com posição “underweight”, ou seja, com peso inferior a ser detido no Ibovespa, preferindo uma exposição maior a 3R.
Ao mesmo tempo, acho um erro dos mercados colocar todas as estatais no mesmo bolo. Parece uma questão circunscrita à Petrobras. Diferentemente da tragédia da nova matriz econômica, não há qualquer discussão em curso sobre a mudança do spread bancário ou algo assim. De maneira direta, portanto, ao menos no momento não vejo risco de interferência sobre o Banco do Brasil, que negocia a 3,5 lucros e paga dividindo de dois dígitos. Cada problema à sua hora.
4) Cripto: fim de uma era ou oportunidade da década com uma atualização recente?
A tendência humana à polarização transborda o escopo político-ideológico. Ela penetra as decisões financeiras também. Há sempre uma tendência de um lado, a achar que cripto é a maravilha do mundo e esbravejar clichês pseudointeligentes como “aos novostos, esse é só mais um batismo no bitcoin; ele já caiu assim outras mil vezes”; e de outro, a defender o ambiente das moedas digitais.
Acho que a situação requer mais profundidade e cuidado. Essa primeira vez que as moedas enfrentam um contexto de avaliação de avaliação digital, crise de todo o mundo tech.
Em algumas situações, desta vez é diferente mesmo. Por isso, para enfrentar o inverno cripto com responsabilidade e aproveitando as oportunidades de multiplicação que se criam (sim, elas ainda existem!), convido a todos para participarem da nossa live sobre criptomoedas hoje, às 19h, com nosso especialista Vinícius Bazan.
PS.: Eu e Ricardo Mioto lançam nosso novo livro “O Filho Rico” na Livraria da Vila do shopping JK Iguatemi na quinta-feira, dia 2, a partir das 18h. Será uma honra encontrar você lá, para uma conversa olho no olho e a assinatura do seu exemplar. você!
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