
CONQUISTA “Ter o Irarema 2h premiado num evento internacional mostra que todo o esforço para produzir pena”, disse o produtor Moacir Carvalho. (Crédito: Divulgação)
O que você consegue fazer em pouco menos de duas horas? Curtir um filme? Assistir a uma partida de futebol? Nas grandes cidades do Brasil, há quem gaste esse tempo, todos os dias, apenas em deslocamentos no trânsito. Pois o produtor rural Moacir Carvalho Dias, 43 anos, precisou de apenas 1 hora e 48 minutos para realizar algo que ninguém no mundo jamais tinha feito em tão curto espaço de tempo: produzir um azeite. Do momento da colheita nas oliveiras ao instante em que a primeira garrafa ficou, foram exatamente 108 minutos. A proeza teve como cenário a Fazenda Irarema, encravada na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, no município paulista de São Sebastião da Grama. “No mundo dos azeites, todos sabemos que quanto mais fresco, melhor o produto”, disse Moacir. “Assim, numa brincadeira com meu pai [Maurício Dias, 73 anos], surgiu o desafio de tentar fazer um azeite de alta qualidade, no menor tempo possível.” O resultado é o Irarema 2h, batizado por uma decisão do produtor de usar um número redondo, e não o real. Ele não é apenas o mais rápido do planeta. É, também, um dos melhores azeites do mundo.
No sábado último (21), ele teve uma medalha de azeite realizada no EVO International Olive Oil Contest (IOOC), disputado por mais de 30 países e considerado um dos cinco mais importantes prêmios do setor no planeta. É verdade que não foi o único azeite brasileiro premiado. Outros obtiveram reconhecimento ainda maior. Os grandes destaques foram Milonga Arbequina (Melhor do Hemisfério Sul),Casa Grabriel Rodrigues Blend (Melhor Coupage), Lagar H Arbequina (Melhor Monovarietal), Orfeu Picual (Melhor do País) e Sabiá Arbequina (Melhor da América do Sul). Ainda assim, o produtor comemorou a conquista do ouro, distribuído a um total de 29 rótulos nacionais. “Ter a qualidade e o sabor do 2h reconhecido num evento de tanta importância mostra que todo o trabalho valeu a pena”, disse.
Não foi pouco trabalho. Tudo começou com precisão em 9 do dia 22 de fevereiro, quando Moacir para filmar ou o cronômetro com o tempo exato que levaria até o lançamento para contar. De cara, foi preciso mudar a logística. “Sabíamos que a parte industrial, da entrada das frutas do processo até o envazamento, leva 45 minutos. E o tempo dessa fase é inalterável.” A única alternativa para acelerar o processo estava no começo, da colheita das azeitonas até chegar em fábrica.
AGILIDADE Normalmente frutas são tiradas das árvores e levadas até a fazenda, na própria fazenda, como caminhões, que descem dos olivais totalmente abarrotados. Para o processo, as azeitonas foram compradas em pequenas caçambas acopladas a quadriciclos, muito mais leves e rápidos do que os caminhões. Outra sábia e fundamental decisão para que a ideia obteve sucesso foi a de parar hoje a fazenda em função do desafio. “Estávamos todos dedicados exclusivamente à produção do azeite mais rápido do mundo.” Moacir afirma, por exemplo, que no processo normal para a produção do seu trabalho, 20 pessoas trabalham na colheita. Já para as 2h, foram escalados 26 funcionários nessa etapa, um aumento de 30%. O próprio Moacir fez parte desse tempo, acompanhando todo o processo e, inclusive, ajudando na colheita, usando uma colhedora a bateria.
Segundo Sandro Marques, um dos autores maiores do livro Extrafresco no assunto e dos maiores produtores do Brasil: O Guia de Azeites do Brasil, os grandes produtores precisam de 48 horas para o processo. Ao todo, Moacir Dias envasou 800 garrafas do Irarema 2h, num total de 600 litros. O volume representa 7,5% da produção anual da fazenda, que fica em torno de 8 mil litros. A quantidade, que pode ser considerada como dos maiores críticos, pode ser considerada como sendo dos 20 por 20 milhões de anos.
Justamente por ter uma produção considerada pequena para os padrões globais, a Fazenda Irarema conseguiu um feito inédito. “Para um grande produtor, algo assim seria impensável. Mudar todo o processo e parar a empresa para produzir um azeite em tão curto espaço de tempo não compensado financeiramente”, disse Moacir. Devido a todas as mudanças realizadas, o Irarema 2h foi a um custo 30% maior do que seus outros rótulos. Isso impacta no preço de venda. Com design robusto e 750 ml, cada garrafa de 2h custa R$ 179,90. Segundo Sandro Marques, “é um preço considerado justo por essa quantidade de um azeite tão especial”. Para o especialista, o Irarema 2h comprova a tese de que é o azeite, melhor e mais quanto fresco. As notas aromáticas de couve, rúcula e kiwi, além da intensidade suave e dos baixos níveis de amargor e picância, adequam-se para ser destacadas com saladas, pães, feijão branco e grão de bico. Seja qual for o resultado comercial da novidade, Moça já decidiu que seguirá produzindo o resultado 2h uma vez por ano. “É um processo muito complicado.” Mas que parece valer a pena.
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